A abstenção
foi um dos traços mais vincados do comportamento geral dos eleitores
portugueses nas últimas eleições autárquicas.
Tal
facto, não me parece que signifique um voto de protesto contra os políticos em
geral e contra as políticas que estão a ser seguidas, mas sim uma atitude
resultante de um forte desalento e /ou de uma forte convicção de que não
adianta fazer o que quer que seja porque nada muda.
Há como
que a sensação da incapacidade de interferir no processo, criando-se, assim,
uma inércia que, aos poucos, nos vai transformando numa sociedade amorfa que,
inevitavelmente, vai a caminho de um crescente empobrecimento.
Como,
de facto, é esse o objectivo do poder instalado, a sua estratégia passa por
anestesiar a população, instalar o medo do desemprego naqueles que ainda têm
emprego e, simultaneamente, procurar deslaçar a sociedade atirando empregados
contra desempregados, novos contra velhos, pobres contra remediados,
transformando-nos num “bando” de invejosos que, cada vez mais, deixamos de nos
interessar pelos outros, procurando apenas o interesse pessoal na tentativa,
permanente, de conseguirmos simplesmente sobreviver.
Só um
clima assim é que permite a inexistência de uma verdadeira revolta não só
perante a Troika que, obviamente, não quer saber do país para nada, visto que o
seu objectivo é a defesa dos interesses dos credores que passa pela exploração
permanente do país e de todos nós, mas, também, perante um Governo que de
joelhos lhes obedece, cegamente, e que nos comunica as sucessivas medidas
gravosas com total indiferença e brutal crueldade.
Os
Governantes que, de facto, não têm nenhuma ideologia, como se viu na última campanha
para as Autárquicas em que as medidas que preconizavam eram o contrário dos
princípios que dizem defender, não conseguem acertar uma mas, alegremente, têm
o descaramento de apregoar que tudo vai bem e que nos esperam risonhas
madrugadas, apesar da realidade desmentir tudo o que eles dizem.
Impreparados,
inexperientes, desorganizados e inconscientes é o mínimo que se pode dizer
deste bando de malfeitores que até desfazem, unilateralmente, os contratos
estabelecidos com os que já se foram e que organizaram as suas vidas pensando
que podiam morrer descansados, porque tinham deixado a sua reforma para
garantir a vida da Família que cá ficava.
Sinceramente,
não creio que toda esta questão possa vir a acabar a bem…
A
Oposição, e sobretudo o PS, têm de dar um passo em frente e dizer, de forma
clara, qual é, no concreto, o seu Programa de Governo, quem são os eventuais
protagonistas desse projecto e pô-los a afirmarem-se publicamente, salientando
a sua preparação/experiência e, sem receios, puxar pelo orgulho dos
portugueses, mostrando-lhes que o país é deles e que, se for preciso saltar
para a rua, para garantir a
sobrevivência e a dignidade, o PS estará com eles.
Para
grandes males…