É muito curioso observar muitos
dos que, ainda recentemente, faziam a apologia do empobrecimento, virem, agora,
a correr, apanhar o comboio do crescimento económico.
Juravam, a pés juntos, que era
inevitável a austeridade a qualquer preço, que nada de renegociar as condições
do acordo com a Troika, para, nesta sua nova posição, dizerem que afinal se vai
necessitar de um maior empréstimo e de alargar o prazo previsto, mas que tal só
deve ocorrer no final de 2013. E, cinicamente, como quem fala para parolos,
referem, publicamente, com enorme desplante, que a negociação terá de acontecer
mas que não convém assumir tal desiderato para o exterior para não se
comprometer a confiança então conquistada. Se no final - dizem eles - não se
atingir os objectivos previstos, a culpa não será nossa, porque nós, bem
comportados, cumprimos a nossa parte. A Troika, então, que se assuma.
Mas assumir este papel não será
reconhecer que o Governo se transformou numa mera Direcção Geral?
E, para dizer isto em público,
como se não fosse ouvido cá dentro e lá fora, não é preciso ter lata?
E, “cumprir a nossa parte”, tem
sido o quê?
Austeridade, austeridade e mais
austeridade, às cegas, sem olhar minimamente, para os seus efeitos “sangrentos”
sobre a classe média que, desesperadamente, começa a entrar em dificuldades de
sobrevivência.
Estamos, sistematicamente, a
assistir a toda uma política cheia de preconceitos ideológicos, calculismos e
mesmo crenças em que as pessoas são o elo mais fraco sem qualquer relevância
nas decisões que têm vindo a ser tomadas.
Quem observar, com atenção, as
intervenções públicas dos principais intervenientes na definição das pseudo
políticas deste país, fica, certamente, muito preocupado, para não dizer
horrorizado, com as posturas assumidas por cada um deles.
Repare-se:
O CDS/PP
·
Este Partido faz parte da coligação, mas ninguém
diria. De facto Paulo Portas, sempre que o governo vai anunciar uma medida mais
dura, esconde-se atrás das sebes e quando aparece tem um ar cândido como se
nada tivesse a ver com ele. Pura hipocrisia!
·
O ministro da Segurança Social, com ar seráfico,
diz que vai fazer umas coisas, mas acções concretas são nulas!
·
A ministra da Agricultura, e de mais umas tantas
coisas, distinguiu-se pela eliminação das gravatas no ministério e, mais
recentemente, perante os problemas resultantes da seca, pela manifestação da
sua fé de que irá chover.
O PSD
·
O Gaspar, permanece no planeta dos números, como
quem governa um país de robots, mantendo aquele tom de voz irritante de professor
primário a fazer ditado para miúdos de oito anos, completamente alheio aos
efeitos nefastos, sobre as pessoas, das medidas que vai preconizando. Não se
vislumbra uma ponta de emoção naquilo que diz. É assim que consta dos manuais…
Inevitabilidade gélida!
·
O Álvaro revela-se um ET, para não dizer “um
pastel de nada”, que disse que iria transformar Portugal na Florida da Europa,
e que afinal, nem sequer é capaz de nos apresentar, minimamente, um plano
estratégico para a nossa economia.
Mas quando se
repara no seu olhar, na sua expressão facial, quase “boçal”, sem vida, sem emoção,
dificilmente ficamos com esperança do que quer que seja do que dali saia venha
a valer a pena!
·
E o Relvas? Bom, o Relvas é o maior! Todos são
culpados, excepto ele. Ele é o iluminado, ele é o que diz como tudo deve ser
feito. Ele, segundo ele próprio, é o responsável político do governo. Mas, será
que ele terá, de facto, a noção do que é
e para que serve a política?
Repare-se, no ar
vítreo do seu olhar quando das suas intervenções. Há ali laivos de crueldade e
autoritarismo. Humanismo, nem ponta!
·
Quanto ao Primeiro-ministro anda por aí,
limitando-se a seguir, disciplinadamente, a senhora Merkel. Porventura,
consegue causar alguma emoção naquilo que diz? Alguém se sente arrebatado com
as suas palavras? Conhece-se alguma ideia sua sobre a forma de organizar a
sociedade europeia? Terá algum pensamento, sistematizado, sobre o futuro do
nosso país? Está ali um leader ou um bom rapaz? Qual a diferença entre aquela
cara e um pastel de massa tenra? Vislumbra-se uma centelha, sequer, de emoção
no seu olhar? É uma secura completa!
Tecnocratas e burocratas que menosprezam as emoções, jamais
contribuirão, de forma humanizada, para o bem-estar das populações, um dos
principais objectivos da Actividade Política.
Citação:
A minha existência é estimulada pela
linguagem dos sentidos. E eu gosto disso.
In Remoinhos de Emoções de Maria Matias
Não sei exactamente porquê, mas ao ler este texto, recordo o poema
ResponderEliminarde ANTÓNIO GEDEÃO " FALA DO HOMEM NASCIDO "
Venho da terra assombrada,
do ventre da minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.
..............................
Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.
Com licença! Com licença!
Que a barca se faz ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.
Serão só estes que fazem política sem emoção. Depois da definição do actual secretário-geral do PS pelo Prof. Marcelo como souflee penso que o PS bem pode ser incluído. Assim, desafio-o a continuar a crónica com um texto sobre este PS português suave que não está a favor do governo, mas também não parece ser contra, ou seja, é mais-ou-menos...
ResponderEliminarPaulo Morais
Infelizmente, não são apenas estes que fazem política sem emoção. Mas estes são, actualmente, os responsáveis pelas medidas que a todos nos afectam.E, a forma como agem, nada tem a ver com o passado.
ResponderEliminarQuanto ao PS e ao seu Secretário Geral, de facto também não me convencem.São "fadistas" da mesma massa dos governantes, embora os "fados" que cada um canta sejam muito, muito diferentes. Nesta comparação, a diferença, no que se refere às EMOÇÕES", não estará na voz, mas sim nas letras.