Armindo Silva nasceu há
47 anos numa pequena aldeia de Trás-os-Montes.
Os pais viviam do amanho
da terra que pouco mais dava do que para o sustento da família (além dele havia
mais um irmão e uma irmã) e tinham também uma meia dúzia de cabras que o
próprio Armindo, desde muito novo, levava a pastar pelos montes vizinhos.
Os pais, com enorme
sacrifício, lá foram mandando os filhos à escola e o Armindo, aos 15 anos,
acabou a quarta classe.
Nessa altura, tinha-se
iniciado a construção de uma fábrica nas redondezas e o jovem, que não queria
continuar pastor toda a vida, falou com os pais e foi trabalhar para as obras.
Ladino, à medida que ia
dando serventia de pedreiro foi aprendendo a profissão e, aos dezoito anos,
arrancou para a cidade, à procura de melhor futuro.
Muito dedicado ao
trabalho, incapaz de faltar mesmo quando alguma gripe o assolava, rapidamente
se tornou alvo do respeito de colegas e patrões e um oficial do serviço muito
desejado.
Aos vinte e seis anos
entrou para uma empresa de construção civil onde permaneceu até recentemente.
Entretanto, foi pai de
um rapaz e de uma rapariga que têm, agora, 17 e 18 anos, respectivamente, ambos
a frequentar o 11º ano.
Clara, a mulher, trabalhava
numa fábrica de componentes para automóveis, que fechou há cerca de um ano.
Sem qualquer aviso
prévio, há seis meses, sem mais, a empresa onde Armindo trabalhava, avançou
para um despedimento colectivo e o nosso homem ficou sem emprego.
Armindo e Clara, com a
idade que têm, não conseguem qualquer trabalho e os filhos, que eles
ambicionavam que continuassem a estudar, não só tiveram de deixar de o fazer, por
não haver dinheiro para tal, como, obviamente, não conseguem empregos.
O que aqui quero pôr à
vossa reflexão não são tanto as dificuldades materiais que esta e tantas outras
famílias como esta estão a passar.
O que gostaria de chamar
a vossa atenção é para a aflição psicológica que nós passaríamos se tivéssemos de
nos debater com tal situação!
O que fazer? Como
resolver o problema? O que dizer aos filhos? Como pagar as contas? Como
disfarçar este drama? Como descansar minimamente a nossa cabeça de tal sufoco?
Completamente
impotentes, estas famílias ouvem essas elites, que nos governaram e nos
governam em Portugal e na Europa, a dizerem que “gastamos mais do que devíamos”,
“que todos temos de fazer sacrifícios”, “que temos de pagar o que devemos,
custe o que custar”…
O Armindo, a Clara e
tantos outros Armindos e Claras que toda a vida trabalharam, que lutaram e se
sacrificaram para puderem ajudar os filhos, que em nada contribuíram para a
situação actual, ainda têm de ouvir tudo isto, com ENORME FRIEZA, destas elites
que continuam no poleiro, com a mesma pose de sempre, falarem-lhes de
austeridade, protegendo os especuladores e os detentores do capital, porque, é
preciso que se diga, que essa é a forma que os “senhores do poder” têm de
garantir a manutenção dos seus actuais privilégios.
Se lhes falarem do caso
do Armindo e da Clara e do sofrimento porque passam todas estas famílias,
continuarão, impávidos e serenos, de cimeira em cimeira, (a pressa não é deles)
a adiar a questão até que um dia o “balão” rebente e lhes dêem “um par de
murros nos cornos”.
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