Ao
agir, livremente, renunciando à condição de Papa, Bento XVI revela, em toda a
sua plenitude, a sua condição humana.
Há um
quadro de René Magratte (surrealista), designado “A Condição Humana”, em que a
artista expõe a pintura de uma paisagem, colocando-a num tripé, frente a uma
janela.
Ora
acontece que, o que pintou, é exactamente igual ao exterior, estabelecendo-se,
assim, uma confusão entre a pintura e o original.
A artista
procura, por essa via, “questionar a distinção entre a ilusão e a realidade”.
Quando
a Igreja Católica decidiu, dogmaticamente, que o Papa é infalível, que goza da
assistência sobrenatural do Espírito Santo, que a escolha que é feita pelo
Colégio dos Cardeais é inspirada pelo Espírito Santo, e que nas questões
espirituais o Papa não pode ser julgado por ninguém, criou uma imagem que,
quando confrontada com a realidade resultante do seu natural envelhecimento enquanto
humano, revela, de forma bem clara, a distinção entre a ilusão da dimensão que
constitui a primeira imagem e a realidade evidente da sua crescente decadência
física e não só.
Ao
renunciar, o Papa libertou-se das condicionantes divinas que o cercavam para,
humildemente, aceitar a sua Condição Humana.
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