Quem percorre os
caminhos que nos levam da frente ribeirinha, por dentro de Alfama, passando
junto à Sé, até ao Castelo de S. Jorge, ou vice-versa, não se consegue
aperceber da existência de troços da Muralha e de Torres de grande porte que constituíram,
durante vários séculos, a única estrutura de defesa de Lisboa, estrutura essa
que veio a condicionar, até aos nossos dias, o crescimento e, sobretudo, o
desenvolvimento urbano da cidade.
Chama-se “Cerca Velha”
ou “Cerca Moura” a esta muralha, para a distinguir da “nova” Muralha
Fernandina, mais ampla do que esta e cuja construção teve lugar entre 1373 e
1375.
O que é curioso neste
percurso, ao longo da Cerca Velha, é o de podermos constatar e contactar (ao
vivo e a cores) com a própria muralha e com as torres ainda existentes e, por
alguns momentos, deixarmos correr a nossa imaginação através da História e idealizarmos
a vivência das populações à volta das muralhas, local onde se resguardavam
sempre que havia cercos ou ataques, bem como o aparato militar que essa defesa
exigia.
Se, entretanto,
constatarmos, que à época, o rio chegava mesmo junto às muralhas e que,
portanto, os ataques também surgiam pelo lado do Tejo, teremos de fazer mais um
esforço para idealizar a complexidade da organização defensiva, a que acresce
ainda a existência de um conjunto de Portas e Postigos de entrada na muralha
que, naturalmente, implicava o reforço de defesa dessas posições.
Se tudo isto é muito
curioso, a surpresa aumenta quando tomamos conhecimento que os estudos
arqueológicos que foram sendo feitos, permitiram constatar que as paredes das
muralhas foram construídas e reconstruídas em épocas diferentes, havendo zonas
claramente identificadas como da época romana, mas, mais curioso ainda, é de
não haver dúvidas, face aos achados, que já no período do ferro, existiam edificações
situadas ao longo da Cerca Velha.
É muito interessante
conhecer, em detalhe, as portas e os postigos para entrada na cidade, as linhas
de água que ainda hoje percorrem a zona, terminando, nalguns casos, em
chafarizes ainda existentes ou podermos ter a sensação de que somos um militar
dessas épocas ao “pisarmos” o chamado “caminho da ronda”.
Os Palácios ribeirinhos,
a utilização das Torres, a localização exacta das Portas e os caminhos da época
romana, a área da Judiaria, a Casa dos Bicos, etc., etc., são motivos que devem
merecer o interesse não só dos “alfacinhas” mas de todos que gostem de
perspectivar a vida dos nossos antepassados e, quiçá, por alguns momentos
idealizarem-se transportados para a época…
NOTA:
Fiz
este percurso da “CERCA VELHA” em 18ABR2012, numa visita guiada, organizada
pela Museu da Cidade, no âmbito do “Dia dos Monumentos e dos Sítios” e,
confesso, que a satisfação e o entusiasmo com que vos transmito este “passeio”
se deve, em grande parte, aos nossos orientadores do percurso, dois arqueólogos
– a Manuela e o Vasco – que, conhecedores profundos do projecto de valorização
da Cerca Velha de que fazem parte (escavando também), nos descreveram não só o
que íamos vendo, mas nos faziam sentir a importância das descobertas que,
paulatinamente, vão surgindo.
Vê-se
bem que gostam do que fazem…
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