segunda-feira, 18 de março de 2013

FARIA HOJE CEM ANOS!


Meu Pai foi, toda a sua vida, um lutador.

Oriundo de uma modesta família, frequentou o Curso Industrial e foi tipógrafo.
Rapidamente, progrediu na profissão, passando de aprendiz a meio-oficial, depois a oficial, atingindo, muito novo, a categoria de Encarregado numa então grande gráfica de Lisboa.
Daí a ser convidado para Gerente de uma tipografia na Baixa pombalina foi um instante.
O patrão prometeu-lhe sociedade, se fossem atingidos determinados objectivos mas, no final do ano, apesar do resultado alcançado ter sido bem melhor do que o previsto, roeu a corda e adiou a entrada para a sociedade para o ano seguinte.

Homem de palavra e indignado com esta atitude, não só não aceitou tal decisão, como saiu porta fora, avançando para a instalação de uma pequeníssima tipografia, numa casa que tínhamos no fundo do quintal.

Paralelamente, à sua vida profissional, o meu Pai lia imenso e frequentava, assiduamente, o Clube Recreativo do bairro, onde era Director.
Teatro amador, torneios de cartas, ping-pong, ou os bailaricos de sábado à noite tinham sempre a sua “mãozinha” e a sua permanente presença.

As naturais dificuldades no início da sua “oficina”, eram colmatadas com intenso trabalho, de tal ordem que se viu na necessidade de deixar de ser dirigente do Clube, cujas traseiras davam, exactamente, para o quintal onde montara a tipografia.

Recordo, que ele me contou, que no primeiro sábado em que não pode ir ao bailarico, porque foi preciso fazer serão, ia trabalhando e ouvindo a Banda tocar, ao mesmo tempo, dizia ele, que algumas lágrimas lhe rolavam pelo rosto.

No princípio, as dificuldades foram grandes, mas ele, que se fosse vivo, faria hoje cem anos, nunca desistiu e, graças à sua capacidade de luta, ao seu espírito empreendedor e à sua perseverança, nunca desistiu e venceu.

É, pois, com gratidão, que recordo, aqui e agora, o seu exemplo.

Carcavelos, 18 de Março de 2013


4 comentários:

  1. Parabéns Avô!
    Sem dúvida que ês uma grande referência para mim. A convivência contigo (e também qualquer "coisinha" que corre no sangue e vai passando de geração em geração...) foram determinantes para o que sou hoje.
    Tenho saudades!
    bjs ao meu Avô e ao meu Pai
    Alice

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  2. Quero prestar homenagem a um grande Homem, que se fosse vivo faria hoje 100 anos, pelo grande exemplo que sempre deu, durante toda a sua vida: Uma pessoa que se interessava por tudo o que girava à sua volta,amante da leitura e da escrita, detentor de grandes convicções e valores, não abdicando de lutar por tudo aquilo em que acreditava, como a Liberdade.

    Por isso, hoje, dedico-lhe o poema " LIBERDADE " de Armindo Rodrigues ( Lx, 1904-1993 ), também ele, um grande anti-fascista e um grande defensor dos " Direitos do Homem ".


    Ser livre é querer ir e ter um rumo
    e ir sem medo,
    mesmo que sejam vãos os passos.


    É pensar e logo
    transformar o fumo
    do pensamento em braços.


    É não ter pão nem vinho,
    só ver portas fechadas e pessoas hostis
    e arrancar teimosamente do caminho
    sonhos de sol
    com fúrias de raiz.


    É estar atado, amordaçado, em sangue, exausto
    e, mesmo assim,
    só de pensar gritar
    gritar
    e só de pensar ir
    ir e chegar ao fim.


    Armindo Rodrigues









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  3. Quero também homenagear os 100 anos do nascimento do Avô.
    Um Grande exemplo de que o Sonho comanda a vida. O seu sonho continua em nós.

    Bjs Pai
    Carlos



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  4. Acabo de ler e fiquei comovido. Trata-se de uma figura tutelar da minha meninice, meu tio avô e padrinho, com quem tanto aprendi.
    Lá, onde quer que esteja, receba um beijo.


    «Lá onde o sol descansa
    Amarra sua luz no vento que balança
    No veio do horizonte o meio que arredonda
    Um caminho de paz
    Lá onde a dor não vinga
    Nem mesmo a solidão extensa da restinga
    Até aonde a vista alcança é alegria
    Um mundo de paz

    Lá onde os pés fincaram alma
    Lá onde os deuses quiseram morar
    Lá o desejo lá nossa casa lá

    Lá onde não se perde
    A calma e o silêncio nada se parece
    Nem ouro , nem cobiça, nem religião
    Um templo de paz

    Lá onde o fim termina
    Descontinua o tempo o tempo que ainda
    Herança que deixamos do nosso lugar
    Um canto de paz»
    Ceumar

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