A Companhia Independente de
Caçadores 763 tinha sido instalada em Cufar, no Sul da Guiné, num local onde,
anteriormente, tinha sido uma fábrica de descasque de arroz, numa Zona de
intensa actividade operacional por parte das forças do PAIGC, que, na outra
margem do rio Cumbijã, tinham instalado o seu quartel-general, onde pontificava
o comandante Nino.
Desde Março de 1965, que a
Companhia se mantinha em permanente combate, aprendendo, por ela própria, a
atravessar pântanos, bolanhas e terrafo, com lodo e água pelos pés, pela
cintura ou pelo peito, a transpor cursos de água de profundidades variáveis quer
a vau, quer nadando, quer recorrendo ao auxílio de cordas lançadas de margem a
margem, ou, dentro das matas, rastejando em zonas onde, com outras formas de
progressão, seriam intransponíveis, contra um Inimigo numeroso, aguerrido e bem
armado que nos foi causando alguns mortos e bastantes feridos.
No aquartelamento, cujos abrigos
nós próprios construímos, com “tijolos” feitos de lama amassada (adobes) e
troncos de árvores, o pessoal passava o tempo, que mediava entre as várias
operações, aguardando ansioso a chegada de alguém que trouxesse novidades ou,
momento supremo, a distribuição do correio com notícias da família.
Naquela manhã de 23 de Julho de
1966, tomámos conhecimento que, nas noites anteriores, elementos da guerrilha tinham andado nas tabancas limítrofes, sinal que, provavelmente, estariam a
preparar um ataque ao quartel.
Foram, de imediato, lançadas
patrulhas por toda a zona, procurando, assim, neutralizar, quaisquer acções,
regressando todos os militares, por volta da hora do almoço, sem incidentes.
À tarde, para relaxar,
juntámo-nos na “parada” e, via rádio, preparámo-nos, com entusiasmo, para ouvir
a grande meia-final do Campeonato do Mundo de Futebol, que opunha as equipas de
Portugal e da Coreia do Norte.
A ansiedade era muita mas, com
grande tristeza, fomos ouvindo os golos adversários, que conseguiram levar o
resultado até aos três a zero.
Mas, Portugal, não desistiu e com
grande denodo e inspiração, demos a volta ao resultado, acabando por derrotar
os Coreanos por CINCO a TRÊS.
O grande herói desse jogo foi,
sem dúvida, o Eusébio que,
mercê da sua enorme confiança e de um brilhantismo sem paralelo, contribuiu,
decisivamente, para a vitória, metendo quatro dos cinco golos com que brindámos
os asiáticos.
A alegria que se viveu, naquele
aquartelamento, foi enorme!
Aquela vitória contribuiu para
melhorar a nossa auto-estima e deu-nos novas forças para lutarmos pelo grande
objectivo de regressarmos sãos e salvos, cumprindo, com nobreza o nosso dever
para com o país.
A repercussão do feito do
Eusébio, o Grande Pantera Negra, esteve muito para lá do resultado daquele jogo,
pelo que, na data do seu 70º aniversário, me apraz relembrar e deixar expresso
de quanto lhe ficámos gratos pela alegria que foi aquela memorável vitória de
Portugal.
PORTUGAL 5 – COREIA DO NORTE 3
Não há dúvida que o Portugal lhe deve um tributo grande. É hora de lhe prestar homenagem e desejar-lhe vida longa e com saúde.
ResponderEliminar