O Fundo Monetário
Internacional, num invulgar assumir de culpas, veio confessar ter havido um
erro de previsão nos impactos ocasionados pela austeridade nas perdas causadas
no Produto Interno Bruto, nos modelos que estão a ser utilizados nos vários países
“intervencionados”.
Sem dúvida, só um erro “colossal”,
os terá levado a esta iniciativa!
De facto, segundo eles,
em vez de se perder 0,5 € do PIB por cada 1 € de austeridade, perder-se-á entre
0,9€ e 1,7€. (entre o dobro ou mesmo mais do triplo do que tinham considerado).
Qualquer leigo percebe
que esta constatação altera de tal forma uma das premissas básicas do programa,
que nem vale a pena olhar para os resultados a que tinham chegado, antes de
refazer todos os cálculos.
Pois bem, questionado
sobre tal declaração do FMI (que é um dos membros da Troika), o Primeiro-Ministro
português, não só não aproveitou tal argumento, como forma de encarar a
indispensável revisão dos objectivos do memorando que nos foram impostos a
partir daquele pressuposto e procurar, por essa via, minimizar os efeitos desastrosos
que estão e vão continuar a ocorrer, como, bem pelo contrário, veio afirmar
que:
“Os
países que estão sobre assistência financeira não devem aligeirar os seus
esforços” até
porque “em
Portugal não estamos a funcionar com multiplicadores abstractos, estamos com um
programa concreto e monitorizado a cada três meses”.
Mas, se os tais
multiplicadores não são abstractos é porque são concretos, isto é, assentam na
própria realidade.
Assim sendo, EXPLIQUE-NOS,
qual a razão/desculpa para que quase todas as previsões essenciais não tenham
sido atingidas e, até o tão endeusado Deficit tenha tido uma derrapagem
colossal, derrapagem essa, que não foi atingida de um momento para o outro, mas
ao longo do ano, apesar dos multiplicadores, como ele diz, não serem
abstractos.
Foi então do quê? EXPLIQUE-NOS!!!!!!
E o que dizer do ar
descarado com que Passos Coelho faz estas considerações em público, quando a
quase totalidade dos especialistas contrariam tais afirmações? (ver citações) *
Será mera ignorância?
Será má-fé, para enganar
o Zé Povinho?
Ou, será uma enorme
teimosia de quem não quer dar o braço a torcer, “custe o que custar”?
Os extremistas tecnocratas,
cujo modelo, uma vez construído, funciona como verdade absoluta e indiscutível
(veja-se o que está a acontecer com o Orçamento), perdem a racionalidade, para
passarem a agir em nome da fé e, a partir desse momento marram, marram, marram
no capote vermelho ou numa parede, até que se lhes parta alguma coisa…
Sinceramente, é o que
penso que lhes vai acontecer mais dia, menos dia…
*Citações:
·
Austeridade orçamental vai deixar “tudo
morto”- Manuela
Ferreira Leite
· O processo do Orçamento do Estado é “desastroso”
e Passos Coelho tem falta de liderança – Marcelo Rebelo de Sousa
·
Redução do número de escalões do IRS é
inconstitucional – Jorge Miranda
·
Esta carga fiscal pode gerar uma
septicemia na economia – Bagão Félix
· Receio que… as previsões macroeconómicas
sejam, mais uma vez, uma coisa imaginária e sem aderência à realidade – Silva Lopes
·
Há um risco de a recessão ser ainda
maior e do desemprego aumentar ainda mais e… o risco deste Orçamento, depois na
sua aplicação, ser inviável – Marques Mendes
·
Será uma tragédia nacional, em que o
desemprego vai subir em flecha e a falência das empresas será em catadupa - João Ferreira do
Amaral
·
É absolutamente inviável, do ponto de
vista orçamental, conseguir-se uma consolidação como a que é pretendida pelo
governo – Manuela Ferreira Leite
·
Dose excessiva da austeridade pode ser
mortal- Peer
Steinbruck – (adversário directo de Merkel)
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