sábado, 20 de outubro de 2012

MARRAR, MARRAR, MARRAR…


O Fundo Monetário Internacional, num invulgar assumir de culpas, veio confessar ter havido um erro de previsão nos impactos ocasionados pela austeridade nas perdas causadas no Produto Interno Bruto, nos modelos que estão a ser utilizados nos vários países “intervencionados”.
Sem dúvida, só um erro “colossal”, os terá levado a esta iniciativa!
De facto, segundo eles, em vez de se perder 0,5 € do PIB por cada 1 € de austeridade, perder-se-á entre 0,9€ e 1,7€. (entre o dobro ou mesmo mais do triplo do que tinham considerado).

Qualquer leigo percebe que esta constatação altera de tal forma uma das premissas básicas do programa, que nem vale a pena olhar para os resultados a que tinham chegado, antes de refazer todos os cálculos.

Pois bem, questionado sobre tal declaração do FMI (que é um dos membros da Troika), o Primeiro-Ministro português, não só não aproveitou tal argumento, como forma de encarar a indispensável revisão dos objectivos do memorando que nos foram impostos a partir daquele pressuposto e procurar, por essa via, minimizar os efeitos desastrosos que estão e vão continuar a ocorrer, como, bem pelo contrário, veio afirmar que:

“Os países que estão sobre assistência financeira não devem aligeirar os seus esforços” até porque “em Portugal não estamos a funcionar com multiplicadores abstractos, estamos com um programa concreto e monitorizado a cada três meses”.

Mas, se os tais multiplicadores não são abstractos é porque são concretos, isto é, assentam na própria realidade.
Assim sendo, EXPLIQUE-NOS, qual a razão/desculpa para que quase todas as previsões essenciais não tenham sido atingidas e, até o tão endeusado Deficit tenha tido uma derrapagem colossal, derrapagem essa, que não foi atingida de um momento para o outro, mas ao longo do ano, apesar dos multiplicadores, como ele diz, não serem abstractos.
Foi então do quê? EXPLIQUE-NOS!!!!!!

E o que dizer do ar descarado com que Passos Coelho faz estas considerações em público, quando a quase totalidade dos especialistas contrariam tais afirmações? (ver citações) *

Será mera ignorância?
Será má-fé, para enganar o Zé Povinho?
Ou, será uma enorme teimosia de quem não quer dar o braço a torcer, “custe o que custar”?

Os extremistas tecnocratas, cujo modelo, uma vez construído, funciona como verdade absoluta e indiscutível (veja-se o que está a acontecer com o Orçamento), perdem a racionalidade, para passarem a agir em nome da fé e, a partir desse momento marram, marram, marram no capote vermelho ou numa parede, até que se lhes parta alguma coisa…

Sinceramente, é o que penso que lhes vai acontecer mais dia, menos dia…


*Citações:

·         Austeridade orçamental vai deixar “tudo morto”- Manuela Ferreira Leite
·     O processo do Orçamento do Estado é “desastroso” e Passos Coelho tem falta de liderança – Marcelo Rebelo de Sousa
·         Redução do número de escalões do IRS é inconstitucional – Jorge Miranda
·         Esta carga fiscal pode gerar uma septicemia na economia – Bagão Félix
·     Receio que… as previsões macroeconómicas sejam, mais uma vez, uma coisa imaginária e sem aderência à realidade – Silva Lopes
·         Há um risco de a recessão ser ainda maior e do desemprego aumentar ainda mais e… o risco deste Orçamento, depois na sua aplicação, ser inviável – Marques Mendes
·         Será uma tragédia nacional, em que o desemprego vai subir em flecha e a falência das empresas será em catadupa - João Ferreira do Amaral
·         É absolutamente inviável, do ponto de vista orçamental, conseguir-se uma consolidação como a que é pretendida pelo governo – Manuela Ferreira Leite
·         Dose excessiva da austeridade pode ser mortal- Peer Steinbruck – (adversário directo de Merkel)

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