quarta-feira, 7 de novembro de 2012

ASSISTENCIALISMO


O Banco Alimentar tem sido um organismo importantíssimo no apoio aos mais desfavorecidos, assentando, o seu êxito, em minha opinião, em dois pilares basilares:
      - A forma como foi organizado e como tem sido gerido;
      - A generosidade da população perante uma boa causa e a consciência da    necessidade de ser solidária para com os mais desfavorecidos.
São, portanto, justíssimos, todos os elogios que têm sido feitos à mais alta responsável pelo Banco Alimentar, Isabel Jonet, que tem dado sobejas provas de um enorme espirito voluntarista, mas também e, sobretudo, pela sua capacidade demonstrada, não só para o organizar e o gerir, mas, igualmente, para conseguir motivar os portugueses para a adesão a esta causa.

Mas, o reconhecimento destas suas indiscutíveis características não significa que estejamos de acordo com algumas das suas ideias, que deixou expressas ontem numa “mesa redonda” na SIC Notícias, lado a lado, com Manuela Ferreira Leite e Rui Vilar.

De facto, naquele “fórum”, ficaram bem patentes duas linhas de pensamento que, de uma forma mais ou menos velada, continuam a dividir a Europa (e não só), quanto à forma de agir e de organizar a Sociedade.

Por um lado, Isabel Jonet, defendeu a necessidade de alterar as premissas do conceito de Estado Social, levando-nos, de novo, ao empobrecimento e alterando as políticas, de forma que o essencial fosse o de se manter o auxílio aos pobres, o que implicaria voltar-se à ideia de “remediar a pobreza”, com enormes precauções orçamentais.
Temos de aprender a empobrecer
Não se pode continuar a pensar que é possível comer um bife todos os dias – disse ela- porque, simplesmente não há dinheiro.
Acrescentando que “temos de voltar ao essencial”.

Os que defendem tal visão consideram que as políticas sociais são um custo.

Ao invés, os outros dois membros do painel, evocando os resultados obtidos, este ano, com as políticas de austeridade seguidas, bem como a posição que vai sendo assumida por parte significativa da Europa, defenderam a necessidade de políticas de crescimento, que contribuam para o desenvolvimento económico e consequente aumento do PIB.

Manuela Ferreira Leite, referindo-se à afirmação de Isabel Jonet de que “há certas coisas que já não são viáveis” retorquiu que “Claro que não são viáveis, se continuarmos com esta política de depressão, mas, se definirmos uma política de crescimento a perspectiva será outra”.

Rui Vilar relembrou o recente documento do FMI e o Relatório e Parecer do Conselho Económico e Social onde se refere que nos processos de ajustamento há sempre dor. Mas, no nosso caso, com o excesso de austeridade, corremos o risco de sofrer a dor sem fazer o ajustamento.

A ideia defendida por Margaret Thatcher de que o Estado já não tem condições económicas para sustentar o Estado Providência e, consequentemente, deve ser retirada grande parte dos direitos aos cidadãos que os foram adquirindo ao longo de muitos anos de trabalho e luta, tem mais seguidores do que se julga, como é o caso, aparentemente (ou não) inesperado de Isabel Jonet.

A defesa do empobrecimento e do retrocesso no sentido do Assistencialismo, que se caracteriza pela ajuda pontual às camadas mais desfavorecidas, pela via da doação individual, não leva a nada, porque, tal política, não contribui para a transformação da realidade social dos mais carenciados, que ficam sempre dependentes da “esmola” que lhes for atribuída.

A mudança de padrão de vida desses extractos sociais tem de assentar em projectos concebidos a partir das necessidades concretas dessas comunidades, procurando, assim, prevenir a exclusão social e contribuir para a reinserção desses grupos de risco e de forte vulnerabilidade.

Os que defendem tal visão consideram que as políticas sociais são um investimento.

E, não é verdade, como defendeu Isabel Jonet, “que já não há dinheiro”.
O dinheiro continua a haver, o que é preciso rever é a forma como é distribuído.

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