O Banco
Alimentar tem sido um organismo importantíssimo no apoio aos mais
desfavorecidos, assentando, o seu êxito, em minha opinião, em dois pilares
basilares:
- A forma como foi organizado e como tem
sido gerido;
- A generosidade da população perante uma
boa causa e a consciência da
necessidade de ser solidária para com os mais desfavorecidos.
São,
portanto, justíssimos, todos os elogios que têm sido feitos à mais alta
responsável pelo Banco Alimentar, Isabel Jonet, que tem dado sobejas provas de um
enorme espirito voluntarista, mas também e, sobretudo, pela sua capacidade
demonstrada, não só para o organizar e o gerir, mas, igualmente, para conseguir
motivar os portugueses para a adesão a esta causa.
Mas, o reconhecimento
destas suas indiscutíveis características não significa que estejamos de acordo
com algumas das suas ideias, que deixou expressas ontem numa “mesa redonda” na
SIC Notícias, lado a lado, com Manuela Ferreira Leite e Rui Vilar.
De
facto, naquele “fórum”, ficaram bem patentes duas linhas de pensamento que, de
uma forma mais ou menos velada, continuam a dividir a Europa (e não só), quanto
à forma de agir e de organizar a Sociedade.
Por um
lado, Isabel Jonet, defendeu a necessidade de alterar as premissas do conceito
de Estado Social, levando-nos, de novo, ao empobrecimento e alterando as
políticas, de forma que o essencial fosse o de se manter o auxílio aos pobres,
o que implicaria voltar-se à ideia de “remediar a pobreza”, com enormes
precauções orçamentais.
“Temos de aprender a empobrecer”
Não se pode continuar a pensar que é possível
comer um bife todos os dias – disse ela- porque, simplesmente não há dinheiro.
Acrescentando
que “temos de voltar ao essencial”.
Os que defendem tal visão consideram que as políticas
sociais são um custo.
Ao
invés, os outros dois membros do painel, evocando os resultados obtidos, este
ano, com as políticas de austeridade seguidas, bem como a posição que vai sendo
assumida por parte significativa da Europa, defenderam a necessidade de
políticas de crescimento, que contribuam para o desenvolvimento económico e
consequente aumento do PIB.
Manuela
Ferreira Leite, referindo-se à afirmação de Isabel Jonet de que “há certas
coisas que já não são viáveis” retorquiu que “Claro que não são viáveis, se continuarmos com esta política de
depressão, mas, se definirmos uma política de crescimento a perspectiva será
outra”.
Rui
Vilar relembrou o recente documento do FMI e o Relatório e Parecer do Conselho
Económico e Social onde se refere que nos processos de ajustamento há sempre
dor. Mas, no nosso caso, com o excesso de austeridade, corremos o risco de
sofrer a dor sem fazer o ajustamento.
A ideia
defendida por Margaret Thatcher de que o Estado já não tem condições económicas
para sustentar o Estado Providência e, consequentemente, deve ser retirada
grande parte dos direitos aos cidadãos que os foram adquirindo ao longo de
muitos anos de trabalho e luta, tem mais seguidores do que se julga, como é o
caso, aparentemente (ou não) inesperado de Isabel Jonet.
A
defesa do empobrecimento e do retrocesso no sentido do Assistencialismo, que se caracteriza pela ajuda pontual às camadas mais
desfavorecidas, pela via da doação individual, não leva a nada, porque, tal
política, não contribui para a transformação da realidade social dos mais carenciados,
que ficam sempre dependentes da “esmola” que lhes for atribuída.
A
mudança de padrão de vida desses extractos sociais tem de assentar em projectos
concebidos a partir das necessidades concretas dessas comunidades, procurando,
assim, prevenir a exclusão social e contribuir para a reinserção desses grupos
de risco e de forte vulnerabilidade.
Os que defendem tal visão consideram que as políticas
sociais são um investimento.
E, não
é verdade, como defendeu Isabel Jonet, “que já não há dinheiro”.
O
dinheiro continua a haver, o que é preciso rever é a forma como é distribuído.
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