sábado, 19 de janeiro de 2013

PESADA FACTURA – a dívida boa e a dívida má


A frequência com que o poder instalado (e não só) refere que os sacrifícios que nos estão a ser impostos se devem à PESADA FACTURA que terá de ser paga pelas novas gerações em consequência de termos gasto mais do que devíamos, convida-nos a pensar em que é que, e porquê, ocorreram tais gastos.
Analisemos, então, alguns dos períodos mais significativos da vida das sucessivas gerações:

Comecemos pelo nascimento:

Há 60 anos atrás, a mulher grávida, chegada a sua hora, apressava-se a chamar a parteira e tinha os filhos em casa, correndo riscos, naturalmente, resultantes da forma empírica como os filhos eram trazidos ao mundo.
Eram tempos difíceis para a ciência em que pouco ou nada se podia fazer se algo desse errado, tanto no parto como nos primeiros momentos da vida dos bebés, quase sempre resultando em morte.

Com a evolução da ciência e a construção de Maternidades devidamente apetrechadas, a probabilidade de tudo correr melhor foi crescendo e, em Portugal, passaram a salvar-se vidas que, nas circunstâncias anteriores, estariam condenadas.
“Segundo a revista científica The Lancet, Portugal possui uma das taxas de mortalidade infantil (até aos cinco anos) mais baixas do mundo: 3,32 mortes por cada mil nados vivos.
Um valor atingido em tempo recorde, já que há duas décadas, morriam 24 crianças em cada mil e, em 2003, foram apenas cinco - uma queda de 79% -, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde. No referido relatório pode ler-se a este propósito: “Em 1965, por cada 1000 crianças nascidas em Portugal, 64,9 morriam a seguir ao nascimento, vinte anos depois, em 1985, esse número tinha baixado para 17, 8. Em 2007 esse número recuou para 3,4”. 
O Pré-escolar:
Há uns anos largos atrás, as mães não trabalhavam e ficavam em casa a cuidar dos filhos. A necessidade do casal trabalhar constituiu uma dificuldade acrescida no que concerne à colocação dos filhos durante o dia. Recorrendo a “amas” ou, muitas vezes, deixando os filhos entregues a si próprios, os pais não tinham forma de lhes proporcionar uma educação e um desenvolvimento adequado às necessidades futuras. Só os mais abastados podiam recorrer a colégios particulares, pondo assim em causa a igualdade de oportunidades que a sociedade tem obrigação de possibilitar a todos.
Em 1997, dá-se uma importante evolução com a criação de uma rede nacional de estabelecimentos de educação pré-escolar (jardins de infância) passando a educação no período anterior à escolaridade a ser também da responsabilidade do Estado. Os “pequeninos” passam a ter aprendizagem de linguagem, de expressão artística e do conhecimento geral do mundo que os rodeia.
O Ensino:
Falar da evolução em Portugal, de forma muito simples, é lembrar que a taxa de analfabetismo era na ordem de 52% em 1940, 47% em 1970 e cerca de 9% no censo de 2001.
A diminuição do analfabetismo resultou, essencialmente, da escolarização sistemática dos jovens, registando o censo de 2001 que 8% da população, com 21 ou mais anos, tinham completado o Ensino superior, contra apenas 4% em 1991.
Para que se tenha conseguido alcançar estes objectivos foi necessário investir na reabilitação e construção de novas escolas e contratar os indispensáveis professores.
Ao alargar a escolaridade obrigatória para doze anos e, ao atribuir bolsas para estudantes com maiores dificuldades económicas, Portugal não só procurou elevar o nível escolar dos seus jovens, como combater o abandono escolar.

É bom referir que, para conseguir que os seus filhos tenham conseguido obter a preparação que lhes permitirá qualificações capazes de os habilitar para o mundo do trabalho, as famílias têm sido obrigadas a um significativo esforço, havendo estudos que revelam que os custos directos na educação, em 2010, representavam 21,9% do orçamento familiar.

O Desenvolvimento Físico

É hoje inquestionável que a actividade curricular deve ser complementada com a prática desportiva, face ao importante significado que a preparação física e cívica representa na formação integral dos nossos filhos.
Os principais motivos que conduzem os jovens à prática desportiva são o gosto que nutrem pelo desporto, o divertimento e ocupação dos tempos livres que este lhes proporciona e a manutenção e melhoria da condição física.

Ao longo dos anos foram sendo proporcionados equipamentos (ginásios, campos de jogos, pistas de atletismo, professores e preparadores físicos, etc.) que permitiram aos nossos jovens serem mais saudáveis e, simultaneamente, ficarem mais aptos a respeitarem os princípios éticos universais.
Através do DESPORTO, pode aliar-se a ocupação dos tempos livres, do bem-estar físico e da saúde à cultura da tolerância e do respeito pelo adversário, valores esses que se pretendem sejam fundamentais no desenvolvimento das sociedades modernas.

A Habitação

“É conhecido o enorme esforço que, durante muitos anos, Lisboa fez para acabar com os feios bairros de lata, que hoje permanecem apenas como uma memória triste da cidade.”
Mas quem fala em Lisboa pode igualmente referir-se a outras zonas do país e comparar a evolução das condições habitacionais que hoje se usufrui e a que se tinha há 50/60 anos atrás. Tanto nas cidades, como no interior do país.

A diferença é indiscritível e só quem viveu nesse tempo é capaz de ter a noção da diferença de comodidades de então, para agora. Mas essa diferença teve de ser paga.
Os jovens, a tal futura geração, não faz a mais pequena ideia do que estou para aqui a dizer.
As casas de então não tinham sequer esgotos!!!

A Saúde

Já lá vai o tempo em que as pessoas receavam ser hospitalizadas face às condições precárias que iam encontrar nos estabelecimentos de saúde.
Os familiares e amigos levavam-lhes comida para minimizar a situação e o tempo de espera, para, por exemplo, ser operado era de tal forma elevado, que muitas vezes o paciente acabava por falecer antes de ser internado.

A evolução que ocorreu nesta área, com a construção de novos hospitais e de postos de atendimento, para além de variadíssimas outras estruturas médicas, veio proporcionar uma resposta actual que fica a “milhas” da que acontecia no tempo das gerações anteriores.

Transportes

Nos anos 60, uma viagem de carro, por exemplo, entre Lisboa e o Porto, era uma aventura. As estradas estreitas com valetas acentuadas condicionavam as ultrapassagens e, se por acaso, se tinha o azar de apanhar um camião, raramente se conseguia passar, tendo de penar toda a viagem atrás do pesado, levando muitas vezes com terra e pedras que saltavam com a sua passagem. Os comboios andavam à velocidade dos “torresmos” e, quem se deslocava naquele meio de transporte, normalmente, levava um farnel tal era o tempo que durava a viagem.  
Já sem falar na comodidade!
Muito se poderia dizer relativamente à importância que as infraestruturas de transportes representam no desenvolvimento económico e social de um país, mas o que importa aqui realçar é que, ao longo dos últimos anos, se operou um significativo desenvolvimento do sistema de comunicações que vieram garantir o aumento da mobilidade, possibilitando que as populações e os agentes económicos diminuíssem o tempo necessário para atingirem um local de forma mais cómoda e mais segura.
Para tanto, foi necessário reabilitar ou construir estradas, pontes, túneis, vias-férreas, aeroportos, portos marítimos e fluviais, que, obviamente, vão sendo utilizados pelas actuais e futuras gerações.

O Serviço Militar

Em 1961, quando começou a guerra colonial, o serviço militar era obrigatório para todos os portugueses do sexo masculino, por um período de dois anos. Como, porém, o tempo de serviço só era contado a partir da data de embarque para o teatro de operações, houve muitos “mancebos” que estiveram nas fileiras das Forças Armadas cerca de quatro anos, com o consequente atraso na entrada no mundo do trabalho e na organização da sua vida familiar.
A geração de então era constituída, grosso modo, pelos actuais reformados.
O esforço que lhes foi EXIGIDO, implicou, em milhares de casos, o sacrifício da própria vida ou sequelas físicas e mentais para o resto da sua existência.

Felizmente, que foi possível terminar com a guerra, permitindo que a actual geração no activo, bem como as das nossos filhos e netos, por agora, nem sequer estejam sujeitos ao serviço militar obrigatório.





Em jeito de conclusão:

Perante o panorama e a evolução aqui referidos, conviria deixar no ar a questão de saber se as gerações presentes e futuras, que são quem usufruem do património que estão a “herdar”, estariam dispostas a abdicar do avanço civilizacional, que todos estes investimentos feitos lhes proporcionam, tanto hoje, como no futuro.
A dívida que o país tem, resultante destes investimentos, é uma boa dívida e a sua amortização terá de ser, naturalmente, feita ao longo do tempo e paga por todos que vão usufruindo dessas realizações.

Acontece, porém, que a parte má da PESADA FACTURA não resulta do natural desenvolvimento do país, e muito menos de cada um de nós ter gasto mais do que podia, mas sim, como muito bem referiu António Costa, na “Quadratura do Círculo”, do regabofe de parte da classe política, das vigarices e roubos de uns quantos conhecidos que continuam impunes e da continuação da manutenção dos privilégios, enquanto todos os outros estão sujeitos a injustos sacrifícios.

Do que disse António Costa, destaco o seguinte:

“A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir; não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria, por ex. no têxtil.
A ideia de que em Portugal houve um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável…

…Nós orientámos os nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União Europeia: em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi proporcionado. E, portanto, houve um comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política induzida pela União Europeia. Portanto, não é aceitável agora dizer que errámos. Eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses. Não, esse foi um erro do conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção porque entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira. É isso que estamos a pagar!
A ideia de que os portugueses são responsáveis pela crise, porque andaram a viver acima das suas possibilidades, é um enorme embuste.

Quem viveu muito acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é o orçamento do estado. A administração central e local enxameou-se de milhares de "boys", criaram-se institutos inúteis, fundações fraudulentas e empresas municipais fantasma. A este regabofe juntou-se uma epidemia fatal que é a corrupção…
…E foram as vigarices de Isaltino Morais, que nunca mais é preso. A que se juntam os casos de Duarte Lima, do BPN e do BPP, as parcerias público-privadas 16 e mais um rol interminável de crimes que depauperaram o erário público. Todos estes negócios e privilégios concedidos a um polvo que, com os seus tentáculos, se alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis conhecidos. E têm como consequência os sacrifícios por que hoje passamos.
Enquanto isto, os portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio  europeu. Não devemos pois, enquanto povo, ter remorsos pelo estado das contas públicas. Devemos antes, exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam. Há que renegociar as parcerias público--privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir organismos... Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões. Sem penalizar os cidadãos.”

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