quarta-feira, 18 de abril de 2012

ATÉ A FÉ TEM LIMITES…


Todos nós nos lembramos de termos conhecido, nos bancos da escola, colegas muito bem comportados, que faziam todos os trabalhos de casa, que conseguiam belas notas nos vários períodos do ano, e que, mais tarde, quando confrontados com a actividade profissional, se vieram a revelar incapazes, nalguns casos mesmo autênticas nódoas, porque, desconhecedores da vida real, desataram a tomar medidas desfasadas da realidade, contribuindo, em muitos casos, para enormes fracassos de empresas e das instituições que neles apostaram.
Apesar disso, tais avantesmas, sempre que detêm o poder, alardeando os seus conhecimentos teóricos, vão continuando a parecer grandes senhores, obtendo, normalmente, o apoio de todos aqueles que agem por crença ou que estão sempre dispostos a estarem próximos do poder.

É, exactamente, isso que está a acontecer com o Governo actual.

Perante a evidência dos prejuízos que vão causando com as acções que desenvolvem, vão tomando medidas avulso, que julgam enquadrar-se na teoria liberal que professam, de forma cega, sem se preocuparem com os efeitos nefastos que causam às famílias, sobretudo, às mais carenciadas, ao mesmo tempo que procuram, sistematicamente, encontrar um bode expiatório para os seus erros, atribuindo, tudo o que de mau vai surgindo, aos anteriores detentores do poder, independentemente do tempo já passado e das promessas que fizeram no início do seu mandato.

A “crise”, para o Governo, é culpa nossa que gastámos mais do que podíamos e, agora, temos de a pagar, “custe o que custar”. E lá vão “cantando e rindo…” dizendo hoje uma coisa, para no dia seguinte se desdizerem, sem que se vislumbre um qualquer plano estratégico que nos permita perceber como, de facto, concebem o futuro para Portugal e para os portugueses.

Não sei porquê, mas este governo faz-me lembrar a Mocidade Portuguesa dos tempos do Salazar…

Procurar encontrar alguém, em concreto, ou mesmo qualquer instituição que possam ser considerados como responsáveis pela situação de “crise” pela qual passa, actualmente, o País, a Europa e mesmo o Mundo, é um mero exercício de tentar tapar o sol com a peneira, perante, afinal, uma situação que não é mais do que o resultado lógico do sistema capitalista, quando o deixam funcionar de forma totalmente desregrada.

De facto, só não vê quem não quer, que os chamados mercados não se auto-regulam e, que a mãozinha invisível não passa de mera imaginação, visto que a sua invisibilidade resulta, pura e simplesmente, da sua inexistência.

A realidade é simples e bem evidente.
Quem mais tem, mais quer e, como quem tem o poder económico comanda o processo, sempre a seu favor, a ordem natural desta situação, se nada for feito em contrário, é que, paulatinamente, a riqueza se vá acumulando, sendo, em dada altura, detida apenas por uns quantos que, obviamente, não se dispõem, por livre iniciativa, a redistribui-la, de forma mais equitativa.
Mais ainda, se os deixarmos à solta, vão inventando formas de explorar, especulativamente, o pouco que os outros vão recebendo em contrapartida do seu próprio trabalho.

E foi assim, que chegámos ao estado em que estamos.

A “crise” é, portanto, a situação lógica e natural, a que chegaríamos mais tarde ou mais cedo, a partir deste sistema capitalista que, a não ser regulado de forma eficiente, vai originando um crescente fosso entre os que mais auferem e os que já nem sequer conseguem obter o mínimo para a subsistência das suas famílias.

Crentes no liberalismo económico, os actuais governantes vão, sistematicamente, retirando ao Estado a sua capacidade de intervenção e, com uma visão meramente mercantilista, governam para os números sem a racionalidade que tenha em conta as pessoas.
Esta perigosíssima fé nos mercados e nos indicadores financeiros, arreda, completamente, dos objectivos políticos a justiça social, que se baseia na procura permanente dos caminhos que possibilitem a igualdade de oportunidades para todos os cidadãos e que passa, inexoravelmente, na manutenção do Estado Social, que tem como alicerce a ideia de solidariedade entre os que mais podem e os que mais precisam.

Querem lá eles bem saber disso…

Defendendo as virtudes da pobreza, a inevitabilidade do crescimento do desemprego e da austeridade e mais austeridade, os actuais governantes, quais fervorosos guardiães desta fé neoliberal, vão-nos empurrando na direcção do abismo, num acto de autismo injustificável, de que só desistirão quando o desespero vencer o medo que hoje impera.

Até a fé tem limites!!!

Como seria bom que tudo se viesse a resolver com diálogo, mas, infelizmente, julgo que não…

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