sexta-feira, 20 de abril de 2012

“CERCA VELHA”


Quem percorre os caminhos que nos levam da frente ribeirinha, por dentro de Alfama, passando junto à Sé, até ao Castelo de S. Jorge, ou vice-versa, não se consegue aperceber da existência de troços da Muralha e de Torres de grande porte que constituíram, durante vários séculos, a única estrutura de defesa de Lisboa, estrutura essa que veio a condicionar, até aos nossos dias, o crescimento e, sobretudo, o desenvolvimento urbano da cidade.

Chama-se “Cerca Velha” ou “Cerca Moura” a esta muralha, para a distinguir da “nova” Muralha Fernandina, mais ampla do que esta e cuja construção teve lugar entre 1373 e 1375.

O que é curioso neste percurso, ao longo da Cerca Velha, é o de podermos constatar e contactar (ao vivo e a cores) com a própria muralha e com as torres ainda existentes e, por alguns momentos, deixarmos correr a nossa imaginação através da História e idealizarmos a vivência das populações à volta das muralhas, local onde se resguardavam sempre que havia cercos ou ataques, bem como o aparato militar que essa defesa exigia.
Se, entretanto, constatarmos, que à época, o rio chegava mesmo junto às muralhas e que, portanto, os ataques também surgiam pelo lado do Tejo, teremos de fazer mais um esforço para idealizar a complexidade da organização defensiva, a que acresce ainda a existência de um conjunto de Portas e Postigos de entrada na muralha que, naturalmente, implicava o reforço de defesa dessas posições.

Se tudo isto é muito curioso, a surpresa aumenta quando tomamos conhecimento que os estudos arqueológicos que foram sendo feitos, permitiram constatar que as paredes das muralhas foram construídas e reconstruídas em épocas diferentes, havendo zonas claramente identificadas como da época romana, mas, mais curioso ainda, é de não haver dúvidas, face aos achados, que já no período do ferro, existiam edificações situadas ao longo da Cerca Velha.

É muito interessante conhecer, em detalhe, as portas e os postigos para entrada na cidade, as linhas de água que ainda hoje percorrem a zona, terminando, nalguns casos, em chafarizes ainda existentes ou podermos ter a sensação de que somos um militar dessas épocas ao “pisarmos” o chamado “caminho da ronda”.
Os Palácios ribeirinhos, a utilização das Torres, a localização exacta das Portas e os caminhos da época romana, a área da Judiaria, a Casa dos Bicos, etc., etc., são motivos que devem merecer o interesse não só dos “alfacinhas” mas de todos que gostem de perspectivar a vida dos nossos antepassados e, quiçá, por alguns momentos idealizarem-se transportados para a época…


NOTA:
Fiz este percurso da “CERCA VELHA” em 18ABR2012, numa visita guiada, organizada pela Museu da Cidade, no âmbito do “Dia dos Monumentos e dos Sítios” e, confesso, que a satisfação e o entusiasmo com que vos transmito este “passeio” se deve, em grande parte, aos nossos orientadores do percurso, dois arqueólogos – a Manuela e o Vasco – que, conhecedores profundos do projecto de valorização da Cerca Velha de que fazem parte (escavando também), nos descreveram não só o que íamos vendo, mas nos faziam sentir a importância das descobertas que, paulatinamente, vão surgindo.
Vê-se bem que gostam do que fazem…

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