quinta-feira, 21 de junho de 2012

“UM PAR DE MURROS NOS CORNOS”


Armindo Silva nasceu há 47 anos numa pequena aldeia de Trás-os-Montes.
Os pais viviam do amanho da terra que pouco mais dava do que para o sustento da família (além dele havia mais um irmão e uma irmã) e tinham também uma meia dúzia de cabras que o próprio Armindo, desde muito novo, levava a pastar pelos montes vizinhos.

Os pais, com enorme sacrifício, lá foram mandando os filhos à escola e o Armindo, aos 15 anos, acabou a quarta classe.
Nessa altura, tinha-se iniciado a construção de uma fábrica nas redondezas e o jovem, que não queria continuar pastor toda a vida, falou com os pais e foi trabalhar para as obras.
Ladino, à medida que ia dando serventia de pedreiro foi aprendendo a profissão e, aos dezoito anos, arrancou para a cidade, à procura de melhor futuro.

Muito dedicado ao trabalho, incapaz de faltar mesmo quando alguma gripe o assolava, rapidamente se tornou alvo do respeito de colegas e patrões e um oficial do serviço muito desejado.

Aos vinte e seis anos entrou para uma empresa de construção civil onde permaneceu até recentemente.

Entretanto, foi pai de um rapaz e de uma rapariga que têm, agora, 17 e 18 anos, respectivamente, ambos a frequentar o 11º ano.

Clara, a mulher, trabalhava numa fábrica de componentes para automóveis, que fechou há cerca de um ano.

Sem qualquer aviso prévio, há seis meses, sem mais, a empresa onde Armindo trabalhava, avançou para um despedimento colectivo e o nosso homem ficou sem emprego.

Armindo e Clara, com a idade que têm, não conseguem qualquer trabalho e os filhos, que eles ambicionavam que continuassem a estudar, não só tiveram de deixar de o fazer, por não haver dinheiro para tal, como, obviamente, não conseguem empregos.

O que aqui quero pôr à vossa reflexão não são tanto as dificuldades materiais que esta e tantas outras famílias como esta estão a passar.
O que gostaria de chamar a vossa atenção é para a aflição psicológica que nós passaríamos se tivéssemos de nos debater com tal situação!
O que fazer? Como resolver o problema? O que dizer aos filhos? Como pagar as contas? Como disfarçar este drama? Como descansar minimamente a nossa cabeça de tal sufoco?

Completamente impotentes, estas famílias ouvem essas elites, que nos governaram e nos governam em Portugal e na Europa, a dizerem que “gastamos mais do que devíamos”, “que todos temos de fazer sacrifícios”, “que temos de pagar o que devemos, custe o que custar”
O Armindo, a Clara e tantos outros Armindos e Claras que toda a vida trabalharam, que lutaram e se sacrificaram para puderem ajudar os filhos, que em nada contribuíram para a situação actual, ainda têm de ouvir tudo isto, com ENORME FRIEZA, destas elites que continuam no poleiro, com a mesma pose de sempre, falarem-lhes de austeridade, protegendo os especuladores e os detentores do capital, porque, é preciso que se diga, que essa é a forma que os “senhores do poder” têm de garantir a manutenção dos seus actuais privilégios.

Se lhes falarem do caso do Armindo e da Clara e do sofrimento porque passam todas estas famílias, continuarão, impávidos e serenos, de cimeira em cimeira, (a pressa não é deles) a adiar a questão até que um dia o “balão” rebente e lhes dêem “um par de murros nos cornos”. 

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