quinta-feira, 22 de setembro de 2011

NOVOS AGIOTAS

A dívida da Grécia é grande, como também são as de Portugal, Irlanda, Espanha, Itália, Bélgica e, naturalmente a dos EUA. Pois bem, se o conjunto destes valores constitui a maioria da dívida, a primeira questão que se me põe é a de perceber a quem é que esses povos devem tal dinheiro. Quem são os seus verdadeiros credores? Quem são, de facto, os detentores desse enorme capital?
Já agora, uma segunda questão – Como conseguiram eles, à custa de quê e de quem, acumular toda essa riqueza?
A riqueza não nasce espontaneamente. É, desde logo, o resultado do trabalho de todos, mas, o que é facto, é que a sua redistribuição não corresponde ao esforço de cada um, na medida em que o que se verifica é que a maior parte desse valor está na mão de apenas uns quantos, enquanto muitas famílias vivem dificuldades imensas. A questão não está na diferença natural dos rendimentos, mas sim na sua desproporção.
Não se tem provado que o acumular da riqueza proporcione maior crescimento, maior progresso e melhor bem-estar para todos, como, aliás, a célebre globalização não correspondeu à apregoada baixa de preços que a todos beneficiaria.
Para sobreviver, o hipercapitalismo tem de alimentar o crescimento da procura, tendo utilizado para tal, entre outros métodos, o estímulo ao crédito fácil, levando as Famílias e os Estados a um crescente endividamento.
Receosos agora do retorno desses valores, os detentores desse capital acumulado querem-no rapidamente de volta, ameaçando-nos com o caos, a miséria e a fome, como, se se tal viesse a acontecer, eles saíssem incólumes sem igualmente perderem o património e, quiçá, a própria pele. Aliás, já se vai ouvindo falar de guerra…
As reuniões sucedem-se.
Os governantes europeus, quase todos da mesma família política, aparentemente especialistas e sabedores, vão tomando medidas avulso, sempre no sentido da austeridade, procurando inventar uma solução que não passe pela necessária redistribuição da riqueza acumulada por aqueles que suportam essas elites bem - falantes. Mas os resultados dessas experiências falam por si próprios. As vidas das famílias vão ficando cada vez mais destroçadas e adivinham-se a falência de vários estados.
Tal como os urubus que surgem mal cheiram a morte, os mesmos que ocasionaram esta situação, aparecem agora como especuladores financeiros, emprestando dinheiro a juros cada vez mais elevados, justificando essa medida pelo crescimento do risco que é determinado pelas agências de rating, que são empresas privadas pagas exactamente pelos beneficiários das suas previsões.
Todos aqueles que praticam esta exploração financeira sobre quem está sem alternativa chamam-se AGIOTAS. Vivem desta criminosa actividade e o seu poder tem crescido de tal forma que hoje são eles que impõem as “leis” arredando os políticos para segundo plano.
Os NOVOS AGIOTAS são quem agora governa.
Mas se os agiotas estão sujeitos, em vários países, a ser criminalizados se ultrapassarem as taxas máximas de juros estabelecida pelos Bancos Centrais, porque razão a Europa não consegue, com o seu (suposto) poder, estabelecer o mesmo? Não consegue ou não quer?
Em Portugal, parece evidente que sem crescimento económico, que se não vislumbra, não haverá dinheiro para pagar a dívida. No final deste processo em curso vamos estar mais pobres, mais desgastados, mais doentes, com famílias destruídas e sem qualquer esperança para o futuro porque a dívida não diminuiu e a economia estará destroçada.
As elites que têm a função de governar, sabem muito bem que a solução passa pela redistribuição da riqueza, por exemplo, através do perdão de parte da dívida, mas, ou fazem-se de míopes ou não o querem, por ora, admitir.
A alternativa pode muito bem conduzir-nos a uma escalada de desespero, que não se resolve com comícios ou mesmo greves, (aliás, é ridículo falar em greves a milhões de desempregados por esse mundo fora), mas o tempo é cada vez menor e é bom que percebam que situações como esta nunca se sabe como podem acabar.

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Olá!

    Antes de tudo, fico contente com esta nova "voz", aliás, novo só mesmo o veículo de comunicação porque esta voz já há muito tem consciência.

    Quanto ao tema, pois concordo e subscrevo embora me pareça que o perdão da(s) dívida(s) seja no médio prazo, um cenário onírico.
    De facto, os "agiotas" dominam impunes mas também julgo ser importante que se recue até 2008 para as origens desta crise e se reflicta sobre os momentos imediatamente antes e de que modo as coisas poderiam estar diferentes. A única semelhança entre as crises do sul da Europa é a sua dimensão, de resto estamos a tratar de vidas e de um futuro comprometido. Duvido que as eleições americanas do próximo ano alterem o que quer que seja, nem mesmo as da Alemanha.

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  3. Não posso estar mais de acordo com a analise.
    Porém quando algumas pessoas me questionam, na minha qualidade de economista, como e que tudo isto se resolve, eu sem perceber patavina, apenas respondo: - Com o tempo!
    Oxalá os meus, os nossos tenham a coragem para ultrapassar tudo o que esta para vir.

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  4. “Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos”. (José Saramago)

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