domingo, 25 de setembro de 2011

Sacrifícios para alcançar o quê?

Quando, diariamente, através dos mais diversos meios de comunicação, se justificam os sacrifícios que todos temos de suportar por força da Dívida Pública, da Dívida Soberana, da Despesa Pública, do Deficit, etc., interrogo-me sobre qual será a percentagem dos Cidadãos Pacíficos portugueses que sabem o que significam estes termos e, consequentemente, percebem a razão das medidas adoptadas para ultrapassar a situação e podermos, assim, alcançar nem sei bem o quê, mas gostava de saber…

Se a chamada “ajuda externa” que nos está a ser prestada, não passa de empréstimos, a um juro alto, que se destinam a pagar outros empréstimos, que, entretanto, se vencem, então, quando o deficit atingir, em 2013, o objectivo de 3% do PIB, a dívida não só não diminuiu, como, pelo contrário, aumentou, por força dos juros e do próprio deficit se manter ao longo do período.
Por outro lado, ao combatermos o deficit da forma como se pretende fazê-lo, num curtíssimo período de tempo, com medidas de austeridade, sem quaisquer estímulos ao crescimento da economia, nomeadamente, restringindo, exaustivamente, o investimento público, como iremos fazer crescer a riqueza do país de forma a podermos pagar a dívida?

Estabelecer objectivos ideais parece-me fácil, a dificuldade estará em os determinar fundamentados na realidade da vida do país, possibilitando, dessa forma, que as Políticas que se definirem não sejam cegas, atingindo tudo e todos, numa lógica de “doa a quem doer, morra quem morrer”.
Conseguir chegar aos 3% do deficit em tão curto espaço de tempo, parece uma medida sem bom senso, que não permitirá que a economia comece a crescer, bem pelo contrário, irá ocasionar que fiquemos todos mais pobres, com algumas famílias a cair para a indigência e o tecido social destruído, sem que se perceba para quê afinal tais sacrifícios.

Claro que os nossos credores se estão nas tintas para as consequências que estas medidas implicam mas, eles não só não estão impunes pela situação criada como, igualmente, não são indiferentes ao resultado que teria uma posição devidamente articulada por todos os países credores.
Quando farejam o medo, as feras atacam sem tréguas!


A questão que se me põe e que gostaria de ver analisada, é a seguinte:

Se as medidas que estão a ser tomadas se, grosso modo, se mantivessem, sem, todavia, restringir tanto o investimento, alargando, simultaneamente, o período de tempo necessário para se atingir os 3% do deficit, não estaríamos a contribuir para incentivar a economia e, consequentemente, a aumentar o número de postos de trabalho e a riqueza do país, com a qual poderíamos amortizar a dívida?

3 comentários:

  1. Olá!

    A minha resposta à questão que coloca é simples e mais fácil de realizar do que imagina (e digo isto sendo um leigo): antecipar políticas e soluções de recuperação que sejam ao mesmo tempo uma saída para a crise (ou "crise") e uma promoção de um futuro sustentável.
    Por mais utópico que possa parecer, uma crise é no fim de contas, uma oportunidade e há que saber agarrá-la! A circulação de dinheiro em paralelo com o rigor orçamental é possível e parece-me ser a solução para os 3%.

    ResponderEliminar
  2. Olá!
    Devia ser publicado no "Expresso", muito interessante. Gostei!
    Beijinho do tamanho da €rise.

    ResponderEliminar
  3. “Sacrifícios para alcançar o quê” – Comentário/Reflexão

    Sempre me considerei uma pessoa relativamente optimista, com tendência natural para ver “o copo meio cheio”. No entanto, face à presente conjuntura, sinto que esta minha postura tende a alterar-se.
    Efectivamente, quando o Ministro das Finanças faz uma comunicação ao país é sempre para nos dar péssimas notícias, ou seja, aumentos de impostos e mais aumentos de impostos, dizendo-nos tudo isto com uma enorme candura como se tratasse de algo inofensivo para a maioria dos portugueses.
    Ainda hoje, voltou a aparecer na Televisão, após uma reunião anual do FMI e do Banco Mundial, para anunciar calmamente (ou cinicamente) “que o pior ainda está para vir”, quando, pasme-se, recentemente, nos tinha sido comunicado: redução e congelamento de salários e pensões; aumento de impostos sobre o trabalho; aumento dos transportes, electricidade e gás; cortes nas prestações sociais; aumento do IVA e do preço da água, etc.,etc…
    O mais curioso é que as vítimas são sempre as mesmas, a maioria das quais em nada contribuiu para a situação em que se encontram e que, de repente, se vêem sem meios de subsistência e sem vislumbrarem qualquer perspectiva de melhoria futura.
    O que esperamos que façam?

    Inevitavelmente, sou arrastada a estabelecer um paralelismo entre o presente e o passado.

    Se recuarmos ao sec. XVIII, mais propriamente ao ano de 1789, verificamos que a França se debatia com uma grave crise económica e um colossal défice financeiro. Como as receitas eram cada vez mais insuficientes para cobrir as despesas do Estado, o rei Luis XVI considerou que a solução plausível seria a de começar a cobrar também impostos aos grupos privilegiados (clero e nobreza) e não sendo, exclusivamente, o 3º estado (povo e burguesia) a arcar com todo o peso fiscal.
    Apesar da riqueza que detinham, as ordens privilegiadas, recusaram, sistematicamente, em abdicar dos seus direitos, arranjando sempre pretextos para manterem as regalias que usufruíam.
    Perante esta situação, os assalariados e os pequenos artesãos, que não conseguiam aguentar o pagamento de mais impostos, saíram à rua, organizaram-se e assim se iniciou a Revolução.
    O período que se seguiu foi de grande sofrimento, com guerras, fomes e muitos mortos, tendo saído muito caro ao Clero e à Nobreza que viram a sociedade do Antigo Regime desaparecer, tal como estava estruturada, perdendo a maioria dos privilégios que até então detinham.
    A verdade é que a “cegueira” de alguns, ocasiona, muitas vezes, convulsões sociais, cujos resultados são sempre negativos e imprevisíveis.
    A experiência do passado deveria servir de lição para o presente…
    É indispensável redistribuir a riqueza que se concentra numa pequena minoria que tudo continua a fazer, sem escrúpulos, para ainda obter mais.
    Corre-se o risco de vermos as populações mais desprotegidas, sem capacidade económica para aguentar tanta austeridade e garantir a sobrevivência das famílias, não terem outra opção que não seja o protesto e a revolta.
    O que se vê é que os governantes, por essa Europa fora, procuram excluir os mais ricos e poderosos de contribuírem, de forma proporcionada, na indispensável redistribuição da riqueza.
    Se são necessários sacrifícios que se façam, mas não de forma cega e injusta, mas sim de forma racional, progressiva e eficaz para que todos possam aguentar o esforço.
    O tempo urge e os constantes pretextos para adiar medidas que atinjam os detentores das grandes fortunas, não são um bom presságio…

    ResponderEliminar