quinta-feira, 15 de março de 2012

DIA NACIONAL DA POESIA - 14 de MARÇO

No Dia Nacional da Poesia, aqui recordo um dos poemas de que mais gosto, do meu poeta preferido.


de António Gedeão, 
Fala do homem nascido 



Venho da terra assombrada
Do ventre da minha mãe;
Não pretendo roubar nada
Nem fazer mal a ninguém.

Só quero o que me é devido
Por me trazerem aqui,
Que eu nem sequer fui ouvido
No acto de que nasci.

Trago boca para comer
E olhos para desejar.

Com licença, quero passar,
Tenho pressa de viver.

Com licença! Com licença!
Que a Vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
Não tenho tempo a perder.

Minha barca aparelhada
Solta o pano rumo ao norte;
Meu desejo é passaporte
Para a fronteira fechada.

Não há ventos que não prestem
Nem marés que não convenham,
Nem forças que me molestem,
Correntes que me detenham.

Quero eu e a Natureza,
Que a Natureza sou eu,
E as forças da Natureza
Nunca ninguém as venceu.

Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.

Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar!

Sem comentários:

Enviar um comentário