domingo, 4 de março de 2012

POLÍTICA SEM EMOÇÃO


É muito curioso observar muitos dos que, ainda recentemente, faziam a apologia do empobrecimento, virem, agora, a correr, apanhar o comboio do crescimento económico.

Juravam, a pés juntos, que era inevitável a austeridade a qualquer preço, que nada de renegociar as condições do acordo com a Troika, para, nesta sua nova posição, dizerem que afinal se vai necessitar de um maior empréstimo e de alargar o prazo previsto, mas que tal só deve ocorrer no final de 2013. E, cinicamente, como quem fala para parolos, referem, publicamente, com enorme desplante, que a negociação terá de acontecer mas que não convém assumir tal desiderato para o exterior para não se comprometer a confiança então conquistada. Se no final - dizem eles - não se atingir os objectivos previstos, a culpa não será nossa, porque nós, bem comportados, cumprimos a nossa parte. A Troika, então, que se assuma.
Mas assumir este papel não será reconhecer que o Governo se transformou numa mera Direcção Geral?
E, para dizer isto em público, como se não fosse ouvido cá dentro e lá fora, não é preciso ter lata?
E, “cumprir a nossa parte”, tem sido o quê?
Austeridade, austeridade e mais austeridade, às cegas, sem olhar minimamente, para os seus efeitos “sangrentos” sobre a classe média que, desesperadamente, começa a entrar em dificuldades de sobrevivência.

Estamos, sistematicamente, a assistir a toda uma política cheia de preconceitos ideológicos, calculismos e mesmo crenças em que as pessoas são o elo mais fraco sem qualquer relevância nas decisões que têm vindo a ser tomadas.

Quem observar, com atenção, as intervenções públicas dos principais intervenientes na definição das pseudo políticas deste país, fica, certamente, muito preocupado, para não dizer horrorizado, com as posturas assumidas por cada um deles.
Repare-se:

O CDS/PP

·         Este Partido faz parte da coligação, mas ninguém diria. De facto Paulo Portas, sempre que o governo vai anunciar uma medida mais dura, esconde-se atrás das sebes e quando aparece tem um ar cândido como se nada tivesse a ver com ele. Pura hipocrisia!
·         O ministro da Segurança Social, com ar seráfico, diz que vai fazer umas coisas, mas acções concretas são nulas!
·         A ministra da Agricultura, e de mais umas tantas coisas, distinguiu-se pela eliminação das gravatas no ministério e, mais recentemente, perante os problemas resultantes da seca, pela manifestação da sua fé de que irá chover.

O PSD

·         O Gaspar, permanece no planeta dos números, como quem governa um país de robots, mantendo aquele tom de voz irritante de professor primário a fazer ditado para miúdos de oito anos, completamente alheio aos efeitos nefastos, sobre as pessoas, das medidas que vai preconizando. Não se vislumbra uma ponta de emoção naquilo que diz. É assim que consta dos manuais… Inevitabilidade gélida!
·         O Álvaro revela-se um ET, para não dizer “um pastel de nada”, que disse que iria transformar Portugal na Florida da Europa, e que afinal, nem sequer é capaz de nos apresentar, minimamente, um plano estratégico para a nossa economia.
Mas quando se repara no seu olhar, na sua expressão facial, quase “boçal”, sem vida, sem emoção, dificilmente ficamos com esperança do que quer que seja do que dali saia venha a valer a pena!
·         E o Relvas? Bom, o Relvas é o maior! Todos são culpados, excepto ele. Ele é o iluminado, ele é o que diz como tudo deve ser feito. Ele, segundo ele próprio, é o responsável político do governo. Mas, será que ele terá, de facto, a noção  do que é e para que serve a política?
Repare-se, no ar vítreo do seu olhar quando das suas intervenções. Há ali laivos de crueldade e autoritarismo. Humanismo, nem ponta!
·         Quanto ao Primeiro-ministro anda por aí, limitando-se a seguir, disciplinadamente, a senhora Merkel. Porventura, consegue causar alguma emoção naquilo que diz? Alguém se sente arrebatado com as suas palavras? Conhece-se alguma ideia sua sobre a forma de organizar a sociedade europeia? Terá algum pensamento, sistematizado, sobre o futuro do nosso país? Está ali um leader ou um bom rapaz? Qual a diferença entre aquela cara e um pastel de massa tenra? Vislumbra-se uma centelha, sequer, de emoção no seu olhar? É uma secura completa!

Tecnocratas e burocratas que menosprezam as emoções, jamais contribuirão, de forma humanizada, para o bem-estar das populações, um dos principais objectivos da Actividade Política.


Citação:

A minha existência é estimulada pela linguagem dos sentidos. E eu gosto disso.
                                                                                                              In Remoinhos de Emoções de Maria Matias

3 comentários:

  1. Não sei exactamente porquê, mas ao ler este texto, recordo o poema
    de ANTÓNIO GEDEÃO " FALA DO HOMEM NASCIDO "

    Venho da terra assombrada,
    do ventre da minha mãe;
    não pretendo roubar nada
    nem fazer mal a ninguém.
    Só quero o que me é devido
    por me trazerem aqui,
    que eu nem sequer fui ouvido
    no acto de que nasci.
    ..............................
    Quero eu e a Natureza,
    que a Natureza sou eu,
    e as forças da Natureza
    nunca ninguém as venceu.

    Com licença! Com licença!
    Que a barca se faz ao mar.
    Não há poder que me vença.
    Mesmo morto hei-de passar.
    Com licença! Com licença!
    Com rumo à estrela polar.

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  2. Serão só estes que fazem política sem emoção. Depois da definição do actual secretário-geral do PS pelo Prof. Marcelo como souflee penso que o PS bem pode ser incluído. Assim, desafio-o a continuar a crónica com um texto sobre este PS português suave que não está a favor do governo, mas também não parece ser contra, ou seja, é mais-ou-menos...
    Paulo Morais

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  3. Infelizmente, não são apenas estes que fazem política sem emoção. Mas estes são, actualmente, os responsáveis pelas medidas que a todos nos afectam.E, a forma como agem, nada tem a ver com o passado.
    Quanto ao PS e ao seu Secretário Geral, de facto também não me convencem.São "fadistas" da mesma massa dos governantes, embora os "fados" que cada um canta sejam muito, muito diferentes. Nesta comparação, a diferença, no que se refere às EMOÇÕES", não estará na voz, mas sim nas letras.

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