
O dia
continua chuvoso…
Ainda
assim, tive de descer à rua, porque já não conseguia ouvir mais as notícias que
nos vão dando conta do país que sofre e, da insensibilidade de quem comanda o
nosso destino.
Enquanto
percorro o parque, vou tentando imaginar se os nossos dirigentes se sentirão afectados
com a situação, cada vez mais dolorosa, das famílias deste país que, de um
momento para o outro, se viram sem meios de sobrevivência, face ao desemprego
crescente, com filhos para alimentar e mandar à escola, coagidos a racionar
(quando não a esmolar) os alimentos e a terem de permanecer, humilhadamente em
casa, sem trabalho, quer queiram quer não.
Claro
que não os afecta, senão não tinham o desplante de, publicamente, afirmarem, sem
que a voz lhes trema, de que a solução é pôr todos os desempregados a limpar as
matas, ou a baixar ainda mais o Salário Mínimo.
O dia
continua chuvoso…
Vou
continuando a andar e, agora, o que me vem à cabeça, é a imagem do CARRASCO que,
de machado em punho, corta as cabeças e dorme sem remorsos, porque cumpriu a
sua obrigação.
E a
obrigação, para esta desumana gente, é não estar ao lado do povo indefeso, mas,
sim, a de cumprir as ordens dos que, impiedosamente, nos impõem o cadafalso.
O dia
continua chuvoso…
Olho
para o mundo à minha volta e não sinto nem cheiros, nem sabores, nem deliciosas
conversas e as cores tornaram-se todas cinzentas… tudo é triste!
A raiva
vai crescendo dentro de mim.
O dia
continua chuvoso…
Mas, de
repente, o Sol, depois de várias tentativas, rompe definitivamente as nuvens e
ilumina de novo o arvoredo.
“A luta tem de continuar”- penso eu – enquanto regresso a casa, animado pelo
exemplo do Astro-rei.


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