quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O CONTRATO, O CAVALO DO INGLÊS e OS BURROS

De uma forma simples, pode-se dizer que um Contrato é um acordo entre duas partes sobre objecto lícito e possível, em que os contratantes, reciprocamente, ou, um deles, assume a obrigação de dar, fazer ou não fazer alguma coisa.
Acontece, porém, que sempre que surge qualquer facto extraordinário e imprevisível, tornando o seu cumprimento excessivamente oneroso para uma das partes, pode, o “prejudicado”, pedir a rescisão do acordo ou, pelo menos, a sua revisão.

O Acordo que o Estado Português firmou com a Troika, à semelhança do que está a acontecer na Grécia, tem vindo a mostrar-se impossível de ser concretizado não só pelos valores em causa, como pelo escasso período de tempo previsto, visto ocasionar sacrifícios de tal ordem que, nalguns casos, se tornam desumanos. Aliás, as condições das negociações possibilitaram a assinatura de um verdadeiro contrato leonino * que favorece, abusivamente, uma das partes em prejuízo da outra.
Note-se que, de facto, as verdadeiras partes não são a troika e os partidos portugueses que o assinaram, mas os credores e a população portuguesa sobre quem recaem os efeitos.

Pois bem, assim sendo e, quando já se começam a ouvir vozes por essa Europa, que confirmam a necessidade do perdão de parte da dívida, que razões levam os nossos governantes, os economistas e analistas de sempre e os bem-falantes de serviço a insistirem que Portugal não quer ver reestruturada a sua dívida e alargado o prazo para atingir os 3% de deficit?
Quando é que se compenetram que não vai ser possível pagar a dívida com medidas restritivas que levam à completa destruição da economia, tornando inglórios os sacrifícios a que estamos a ser obrigados?
O cavalo do inglês morreu quando já estava a começar a habituar-se a trabalhar sem comer.
Mas os portugueses, os gregos e os que adiante se verão, a quem, em breve, também irá faltar a comida, talvez, antes de morrer, desatem aos “coices” e depois veremos como é que os param.
Não me parece que as elites governantes sejam burras, mas que são teimosas, não haja dúvida, com os custos que essa atitude acarreta…
Como diria Scolari, eles não querem dar a mão à palmatória e os burros somos nós!


* Contrato leonino – Designação resultante da fábula de Esopo, em que o leão, rei dos animais, evocava essa condição, para exigir sempre a melhor parte.

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